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GRANDE RIO

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G.R.E.S.A.

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FICHA TÉCNICA

Presidente: Milton Abreu do Nascimento
Fundação: 22 de Setembro de 1988
Títulos: 1 (2022)
Cores: Verde, Vermelho e Branco
Carnavalescos: Leonardo Bora e Gabriel Haddad
Diretor de Carnaval: Thiago Monteiro
Comissão de Harmonia: Clayton Bola, Andrezinho, Cacá Santos e Jefferson Guimarães
Intérprete: Evandro Malandro
Comissão de Frente: Hélio Bejani e Beth Bejani
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Daniel Werneck e Taciana Couto
Mestre de Bateria: Mestre Fafá
Rainha de Bateria: Paolla Oliveira

ENREDO

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"Pororocas Parawaras - As águas dos meus encantos nas contas dos curimbós"

SINOPSE

De todas as coisas do fundo eu vou falar um pouco. Ouvidos abertos, atentos à voz que baila. É ela quem versa o ponto, pinta o rosto, poetiza: remanso. Porque “as águas dos meus encantos... é doce!”

1. Água doce me leva, deixa as águas me levar 
pra barreira do mar

No balanço, eu conto uma história de Princesas e Encantarias, areias, brumas e barro. Desfio a colcha de retalhos. Sigo em frente, mareando. Banzeiro de barco. Terceira margem, à beira. Mouros e mururés. Tudo, pois, começou no mar, em meia-viagem, nas tempestades. Tempo fora do tempo, quando a gente peregrina. Encruzillhadas cruzadas, fantasmas, mas é isso (ou aquilo): lenda, crença, reza, mito. Dizeres, letras que flutuam. Lanternas. Palavras que não afundam nas fossas abissais. Sereias e abassás, terreiros nos cantos das águas. Sangue, sal, saudade – a vida nada.
Contam de um sábio Rei, Sultão de nome afamado, cujas filhas embarcaram, fugindo das guerras santas. Eram três as Maresias, Tóias Turcas, Joias d’Água, navegando, navegando: Mariana, Herondina e Jarina. Que não conheceram a morte, uma vez que o mistério é o presente, verde, muiraquitã no peito: diante do arrebatamento, o naufrágio o inevitável, cruzaram os Portais da Encantaria e mergulharam no Espelho do Encante. O Avesso. Quando a névoa se fez incenso – e o céu, azul, azulejo.

2. Verequete é o Rei coroado lá no mar
    Coroa, coroa, coroa... brilhou no mar

Nas praias do Grão-Pará, brancas, lençóis de algodão, a Turquíssima Trindade encontrou um protetor. Verê, Averequete, Vodum poderoso, Tói, Totem das Ondas, Senhor das Espumas. Que se transforma em Pombo Roxo e pajeia, cintilante, a única das Sete Cidades que pode ser contemplada, vasta, sobre a imensidão barrenta. Marajó das revoadas, Aguaguara, vertigem! Viram, então, palácios e berçários, sementes da vida, romã-biribá-bacuri. Vida que vira mangue, mangue que oferta argila para que essa infindável vida seja traduzida em traços, ocos, vasos, dutos: olho d’água, útero do mundo. Na lama, no pântano, nasce a flor mais bonita – aprenderam, à deriva. Seguiram.

3. Um chamado do fundo / você tem que respeitar
     Assim disse um caramujo / que lá foi visitar

As águas driblam seus cursos, levam e lavam, no contrafluxo desse barco, que risca, lentamente, o arco espelhado do Encante. No fundo dos igarapés, nas bocas das matas, os bichos se transfiguram. Flecham! Cobras, sapos, peixes, caruás, o segredo em Pena e Maracá, Pajelança Cabocla. Mãe d’Água canta, Boto assovia, Boiúna se agita no lodo, Caipora e Curupira rodopiam nas clareiras. Mapinguari espia, Matinta espreita. A floresta, ela mesma, se materializa em entidade: Jurema, Quarta Conta, deusa cuja coroa, cocar tricolor, se uniu às três Soberanas. Rebatizadas, nas cascatas da Amazônia, Mariana foi Arara 

 cantadeira; Jarina, a Jiboia vigilante; Herondina, a Onça do meu destino

4. Meu chão tem Encantaria, meu chão tem Encantaria
     Eu não posso falar tudo, o meu pai não me ordenou

As mesmas águas que purificam, nas curvas dos descaminhos, carregam o misticismo e saciam as novas misturas. Tantas famílias chegaram, ribeirinhas; a corte se perpetua: os Dois Irmãos, Averequete e Dom José, viram o axé florescer, no Guamá. Lá e cá, Daomé. Mina-Jeje, Mina-Nagô. Babaçuê, batuques, batalhas... e mais brasa no defumador. Nobres com suas bandeiras, ciganos, marinheiros, boiadeiros, é de Légua e do Codó, é d’Oxum, Nanã e Iemanjá...
...é de Parailá, é de Parailô...
Vibra o Tambor de Mina, pulsa na pele das águas! De cuias, quartinhas, pias e garrafadas, veias de um mesmo tronco, raízes cuja seiva é também saliva, toque de abatazeiro, bouquet de patchouli. Muito forte é a fé, nas águas de Nazaré! Dançando ao luar, na Guma, as Princesas Ajuremadas ofertaram os seus perfumes. Donas de toda a magia – afinal, “fizemos Cristo nascer na Turquia. Ou em Belém do Pará”. A rosa mosqueta, de frescor adocicado; a luz de azahar, em flor de laranjeira; as mais raras pétalas dos ramos da juremeira. Juntas, cantaram as suas doutrinas. Lideraram exércitos, nas trilhas Icamiabas. Passearam, festeiras. Bordaram, enfim, suas rotas divergentes.

5. Quatro Contas me protegem desde menina
     A vermelha é Mariana, a amarela é Jarina
     A branca é a Cabocla Jurema – Juremê, Juremá
     A verde é a Cabocla Brava, é a minha Cabocla Herondina
     Que não me deixa cair, não me deixa tombar

Agora, o que ouvi por aí, vivido, nas folias: contam que Mariana assumiu o navio do pai e margeou a costa brasileira, em luta; contam que Tóia Jarina, vestida na cor do pavão, pode ser vista a girar nas praias, nas dunas adormecidas; e contam que Mãe Herondina não mais deixou a floresta – lá ficou, entre as samaúmas.
Pois tudo virou Carimbó, nos cantares do povo. “Chama Verequete”, o brado em trovão do Mestre! “Chegou Dona Mariana”, ginga de Pau e Corda! Os tambores Curimbós são a voz dos Encantados – contam, comem, rufam, narram. Curimbam! Toda a gente é rio e som, num banho de chuva e cheiro. Quando o canto de Dona Onete, Rainha, beija as Contas da sua vida, louvando, faceiro e jamburano, a proteção das Belas Turcas, celebra os recados das matas, os espíritos das águas, as ervas da Jurema e o saber ancestral da cura. Era isso o que elas buscavam: a cura, macerada na mão. 

Aparelhagem Astral: É noite de festa no Reino da Encantaria!

O barco que me conduz não tem porto de chegada. Sou o próprio delírio sambista, nesse Grande Rio, sou o sonho aquecido no couro, a sagração das Pororocas – elas, lume de estrelas, aquelas que nos defendem e convidam aos segredos. Estrondo! Quero ver Carimbó na Avenida, quero mais carimbolar! Abrir as letras de um Samba valente! Acordar a Cobra Grande e fazer terra firme tremer! Quero ser, para sempre, a beleza guardada nas guias de quem, ainda criança, brilhou na Lua crescente, desceu ao fundo das águas, voou nas asas de uma borboleta azul, penteou os cabelos da Uiara e brincou de se encantar.

Bibliografia:
Enredo, pesquisa e texto: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Pesquisadora convidada: Rafa Bqueer
Assistentes de pesquisa / equipe de criação: Patryck Thomaz, Rafael Gonçalves, Sophia Chueke, Theo Neves

SAMBA-ENREDO

Compositores: Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davison Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes
Intérprete: Evandro Malandro

A Mina é Cocoriô
Feitiçaria Parawara
A mesma Lua da Turquia
Na travessia foi encantada
Maresia me guia sem medo
Pro banho de cheiro
Na encruzilhada, espuma do mar
Fez a flor do mururé desabrochar
Pororoca me leva pro fundo do igarapé
Se desvia da flecha, “não se escancha em puraqué”
Quem é de barro, no igapó, é Caruana
Boto assovia, Mãe d’Água dança

Se a Boiúna se agita, é banzeiro, banzeiro
Quatro Contas, um cocar
Salve Arara Cantadeira, Borboleta à espreita 
E a Onça do Grão-Pará


Na curimba de Babaçuê
Tem falange de ajuremados
A macaia codoense é macumba de outro lado
Venham ver as Três Princesas “baiando” no Curimbó
É Doutrina de Santo rodando no meu Carimbó
E foi assim... Suas espadas têm as ervas da Jurema
Novos destinos no mesmo poema
E nos terreiros, perfume de patchouli
Acende a brasa do defumador
Pro mestre batucar a sua fé
Noite de festa... Curió Marajoara
Protege Caxias, nas Águas de Nazaré

É força de Caboclo, Vodun e Orixá
Meu povo faz a curva como faz na gira
Chama Jarina, Herondina e Mariana
Grande Rio firma o Samba no Tambor de Mina

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